27 de janeiro de 2008

II

Eles são loucos, completamente loucos.

Vivem em caixas de fósforos, frágeis e pequenas, onde cabem cerca de 100, 200, na mesma caixa. Não sei se têm espaço para lá viverem, mas vivem. E quase que sorriem lá dentro, quase que têm orgulho em dizer que isto, sim , isto, é deles meus amigos. Que conquistaram a caixa de fósforos da vida deles.

Até que, um dia, o vento sopra, e a casa, perdão, a caixa, vem abaixo. É frágil, é um irreal que acaba por ser tão real aquando o momento em que o fósforo se acende.

Anda em ovos gigantes com rodas, que se alimentam daquilo que não era mais preciso no mundo. Coisas que lhe fazem mal. Não são medicamentos. Não são antídotos. São ovos ambulantes, frágeis, que se partem. O pintainho, o pinto, não sobrevive.

Vivem daquilo que mais atormenta a alma. Fazem, na sua maior parte, todos os dias, aquilo que mais odeiam. Colocam a sua happy face, e siga. É segunda feira amigo, não vivem sem o meu trabalho.
São quase odiáveis. Mas como posso odiar eu, alguém que faz o que faz, porque quer lutar para sobreviver no mundo das caixas de fósforos, dos ovos?

Em troca, recebem papel. Às vezes, nem isso recebem. Dirigem-se a televisões colocadas na rua, digitam um código, e recebem um papel (afinal sempre o recebem!) com a quantia X, que ganharam no mês Y, onde trabalharam Z horas.

Suspiro.

Podia ser mais.

Podia ser muito mais.

Não chega.

Não chega para o colégio da Maria e para pagar os patins do Fábio. E ele tem tirado notas tão boas!

Não.

Não vai chegar.

Quando chega?

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